Países liderados pela Arábia Saudita e pela Rússia decidiram estender o corte na produção de petróleo vigente desde novembro até o fim de junho, buscando segurar o preço do barril no mercado internacional.
Os sauditas, líderes históricos da Opep, o grupo original de detentores de grandes reservas de óleo, anunciaram que irão continuar cortando 1 milhão de barris por dia, mantendo seu fluxo em 9 milhões de barris.
Já os russos, principais nomes da Opep+, grupo ampliado da Opep, vão manter a redução já vigente de 471 mil barris por dia. Seguiram com a medida o Iraque, os Emirados Árabes Unidos, o Kuwait, a Argélia e Omã.
Com isso, os totais devem ser mantidos em 2,2 milhões de barris diários a menos até o fim do primeiro semestre. Segundo a agência estatal saudita SPA, o governo irá então estudar a flexibilização.
Há diversos fatores geopolíticos e econômicos entrelaçados na decisão, que dá continuidade a uma política implementada inicialmente no fim de 2022. Um dos principais, que remetem àquela época, foi a ascensão dos Estados Unidos, não alinhados aos interesses da Opep+, no mercado.
A Guerra da Ucrânia gerou grande instabilidade no mercado, que foi acalmada pelo produto americano. Além de ameaçar a fatia da Opep+, a queda no preço do barril tem efeito importante tanto para sauditas como para russos.
No caso da monarquia do golfo Pérsico, as estimativas de consultorias colocam um barril perto de US$ 90 como o ideal para manter a programação da chamada Visão 2030 —uma série de megaprojetos acoplados a eventos como a Expo 2030 e à Copa do Mundo de 2034 que pretende ajudar o reino a fazer a transição da economia baseada no petróleo para o setor de serviços e turismo.
A reportagem visitou neste domingo (3) com uma delegação empresarial do Grupo Lide um dos projetos, a construção de uma cidade em torno do sítio arqueológico da Unesco em Diriyah, perto da capital, Riad. Com 20 mil trabalhadores, ela terá aplicados R$ 13 bilhões do Estado só neste ano.
"Vamos estar prontos para 2030", disse o consultor da presidência da obra, Abdullah Alghanim. Os números em sim impressionam, com 10 de 28 hotéis previstos já em construção, e um enorme canteiro de obras com gruas a perder de vista no deserto. Ao todo, a iniciativa custará o equivalente hoje a R$ 265 bilhões —dinheiro que carece do barril mais alto.
No caso russo, o financiamento da economia em tempos de guerra e sanções ocidentais fazem o país colocar um preço na casa dos US$ 50 a US$ 60 para manter a máquina orçamentária rodando. Moscou gastou cerca de 4% do PIB com defesa no ano passado, e pode saltar a 7% neste 2023.
Na sexta (1), o barril futuro para maio estava em ligeira alta, de 2%, a US$ 83,55. Mas isso não é o quanto os russos cobram: com as sanções ocidentais, o Kremlin multiplicou a venda do produto para países como a Índia e a China, aplicando descontos generosos de até US$ 10 por barril.
Mesmo a aplicação dos primeiros cortes estabelecidos pela Opep+, já em 2022, não foi totalmente implementada pelos russos. O czar do setor energético, Alexander Novak, disse neste domingo que agora a redução será estrita.
Não há limitações, contudo, para produtos refinados. O Brasil, aproveitando sua posição de crítico da invasão da Ucrânia mas próximo de Vladimir Putin, não aderindo a sanções, fez da Rússia seu principal fornecedor de óleo diesel. Por outro lado, aí de olho no calendário da reeleição do líder no pleito do dia 17, o Kremlin suspendeu por seis meses exportações de gasolina para manter preços domésticos estáveis.
O preço ficou estável desde o fim do ano passado devido a um equilíbrio entre a pressão que os ataques de rebeldes pró-Irã do Iêmen promovem contra linhas mercantes no mar Vermelho, por onde passa usualmente boa parte da produção mundial de petróleo, e os temores sobre crescimento e taxas de juros dos EUA.Neste domingo, a liderança dos rebeldes da etnia houthi prometeu mais ataques como o que afundou um navio graneleiro do Reino Unido. Eles apoiam o grupo terrorista Hamas na guerra contra Israel atacando alvos ligados ao Estado judeu e a países ocidentais.
A demanda em 2024 é prevista como sustentada pela Opep+ para este ano. Nem todos os analistas concordam, com a Agência Internacional de Energia colocando o crescimento à metade do que o esperado pelo grupo de exportadores —que convidou o Brasil para participar do clube em polêmica oferta bem vista pelo governo Lula (PT), dada incoerência com a agenda ambiental defendida em Brasília.
*O jornalista IGOR GIELOW viaja a convite do Lide.
Folhapress
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